Desde 2015 ocupando o cargo de diretor criativo da Gucci, Alessandro Michele foi responsável por uma grande valorização da grife. Suas criações idiossincráticas, sua paixão pela moda vintage e uma narrativa que quebra estereótipos e clichês são parte da explicação. Olhar para o futuro através das lentes do passado é sua diretriz.
A criança incrível
Nascido e criado em Roma, Michele esteve sempre no berço da arte e da estética. Além disso, seus pais, amantes do cinema e da escultura, trouxeram um repertório único ao criador.
Formado em moda pela Accademia Costume & Moda, de Roma, o estilista logo passou a trabalhar com tricô para a Les Copains, migrando mais tarde para a Fendi, onde trabalhou com Karl Lagerfeld e Silvia Venturini Fendi.
Já nesse período, ainda nos anos 90, o fashion designer chamou atenção do mercado da moda com seus acessórios de couro, e acabou sendo contratado por Tom Ford para desenhar as bolsas Gucci em 2002. Com o tempo, passou a assinar as coleções como assistente da designer Frida Giannini.
Premiado em 2015 pelo Conselho de Moda Britânico por conta de seu estilo e estética únicos, Michele tem transformado tanto as coleções femininas quanto o universo Gucci masculino em ícones da moda contemporânea com suas criações ousadas e desfiles inusitados, com muitas referências históricas e experiências originais.
Uma nova Gucci
Com a saída de Giannini, Michele aproveitou para mostrar a que veio lançando uma nova coleção masculina de gênero neutro, ou genderless, propondo uma quebra de estereótipos e barreiras entre o que seria uma coleção feminina e uma coleção masculina.
Para isso, o designer também incluiu mulheres vestindo ternos de seda florida no desfile, o que seguiu a sua lógica de tornar a linha masculina mais jovem, romântica e com uma sexualidade mais ambígua. Isto é, o novo estilista da Gucci queria trazer um frescor do futuro e as urgências do presente, porém sem deixar de levar em conta a longa tradição da casa.
O resultado, então, foi um retorno à moda vintage com um olhar contemporâneo traduzido especialmente em estampas florais e tecidos finos, cortes clássicos e comprimentos modestos, como saias e vestidos mídi que ganharam tonalidades vívidas e quentes.
Maximalismo
Indo na contramão da tendência minimalista, Michele trouxe para a Gucci a exuberância das cores, da mistura de estampas e do tamanho dos acessórios. Para completar, campanhas extravagantes. Com tudo indo tão bem comercialmente, passou-se a questionar até quando essa fórmula daria certo, mas a verdade é que a grife nunca esteve tão bem avaliada.
Isso significa que é a partir dessa coerência criativa que a nova Gucci está se tornando um próximo clássico da moda. Por ter um ar fresh, suas peças valem o investimento, como aponta a diretora da Vogue americana Anna Wintour: “Temos ouvido muito falar em alegria e otimismo e grande parte do crédito é do Alessandro Michele por ser tão ousado e brilhante ao redefinir a Gucci. Ele tem trazido às passarelas o que não víamos em Milão, com cores e misturas de tecidos interessantes”.
Cyber Gucci
Nesse sentido, assim como se respondesse às críticas, Michele tornou o lançamento de sua mais recente coleção um dos grandes destaques da mídia ao trazer para a passarela modelos carregando suas próprias cabeças.
O designer contratou uma empresa de efeitos especiais para trabalhar nos objetos e nas maquiagens artísticas que deram o toque quimérico e futurista para a coleção de outono 2018, na qual Michele explorou o texto Manifesto Ciborgue assinado pela bióloga feminista Donna Haraway em 1984.
Seguindo a lógica de rompimento dos estereótipos de gênero, Michele trouxe a figura do ciborgue como uma criatura que transcende rótulos e clichês em torno do que é ser homem, mulher ou mesmo ser humano.
Apesar do tom futurista, Michele ainda trouxe na narrativa de seu desfile referências à arte medieval e looks com um aspecto vintage e boho, que contribuem para a construção da assinatura que está se tornando sinônimo da nova Gucci.
Gucci Osteria
Não bastasse a dominação no mundo da moda, a Gucci também se aventura pelo mundo gastronômico com o restaurante Gucci Osteria, que teve a primeira filial aberta em Florença, na Itália, no Jardim Gucci da cidade, com menu assinado pelo cef renomado Massimo Botura. Pouco tempo após abrir as portas, o local ganhou o selo de confirmação de sucesso: uma estrela Michelin. Incrível, não é mesmo?
Calendário próprio
Após as mudanças no cenário da moda com a pandemia no Covid-19 e os novos formatos dos desfiles na temporada de SS21 das semanas de moda internacionais, a Gucci anunciou uma grande definição, talvez a maior desde que anunciou que pararia de usar peles em suas coleções: a Gucci não irá mais participar do calendário oficial da Semana de Moda de Milão. Em vez disso, a grife comandada por Alessandro Michele passará a ter o seu calendário próprio de desfiles, com duas apresentações ao ano, unindo as coleções femininas e masculinas em um só fashion show.