Calças flare, chapéus floppy e muita franja (em roupas, acessórios e cabelos). Quando estes elementos começam a ser vistos nas ruas e passarelas, já sabemos que o folk está retornando em nova roupagem.
Por ter o multiculturalismo em sua essência, é praticamente impossível definir as origens desta tendência, que, ao longo das décadas, sofreu inúmeras mutações, se misturando ao boho, ao hippie e ao gypsy.
Ou seja, não há nada menos folk do que definições, já que a máxima deste estilo é a liberdade de movimento e a falta de limites para o cruzamento de estampas, texturas e culturas.
Colcha de retalhos
A moda “folk” (que significa “povos”) busca inspiração em etnias ao redor do mundo. Povos escandinavos, latinos e indianos, por exemplo, são celebrados por meio de estampas e bordados que remetem a indumentárias folclóricas.
O estilo virou moda oficialmente nos anos 60, com a ascensão do folk como gênero musical e a presença de suas musas: Joni Mitchell e Joan Baez.
Joni, por exemplo, deu seus primeiros passos em festivais de música popular e, em seguida, começou a experimentar com fusões de ritmos, tornando-se pioneira em diversas vanguardas experimentalistas (nada mais folk).
Muito antes do Coachella virar uma passarela de moda para as it-girls digitais, seu visual hippie e suas combinações despretensiosas a elevaram à categoria de ícone fashion, levando-a a estampar a campanha de verão 2016 da Saint Laurent, assim como diversos editoriais de moda.
Yves Saint Laurent, aliás, foi um dos primeiros grandes estilistas a apostar no folk como tendência ao lançar uma coleção inspirada nas roupas usadas por camponeses russos. Tanto que os lenços estampados e a tapeçaria resistem como os grandes pilares deste estilo.
Folk em dia
A brasileira Amapô tem como uma de suas peças mais icônicas a calça jeans boca de sino de cintura alta, que é uma base infalível para looks de inspiração folk. Com a vantagem de alongar a silhueta, a modelagem acompanha tops com decote ombro a ombro, batas com estampas paisley e coletes ajustados em couro ou jacquard. Para um efeito boho máximo, basta escolher uma lavagem blue jeans.
Já o designer Christopher Bailey, da britânica Burberry Prorsum, adapta a tendência para o outono/inverno mesclando tecidos, padronagens, bordados e texturas artesanais para criar vestidos longos esvoaçantes, peças em veludo e casacos em patchwork. Segundo Bailey, a coleção se baseia no folk moderno e tem como ideia “parecer despojada fazendo uso de peças ricas, trabalhadas manualmente”.
Outras opções para apostar em um inverno folk deluxe são jaquetas de camurça em tons caramelo e peças em couro, sempre em uma paleta de tons terrosos ou cores saturadas.
Boho-chic
O termo boho nasceu com o movimento Bourgeois Bohemian, no qual intelectuais e artistas parisienses dos anos 20 utilizavam a moda como um veículo para expressar um estilo de vida nômade. Mais sofisticados que os hippies, os boêmios (ou beatniks) foram os ícones de estilo e comportamento na Londres e Nova York das décadas de 50 e 60, além de precursores do folk.
Atualmente, o boho sintetiza o hippie, o gypsy, o folk e o vintage, e ninguém melhor para ilustrar essa estética do que a cantora Stevie Nicks, que viajou o globo com sua banda Fleetwood Mac, conquistando legiões de fãs (e coletando uma infinidade de roupas e acessórios).
Com cabelos elétricos, maquiagem statement, vestidos maxi deixando o colo a mostra e uma vasta gama de acessórios dramáticos (pense em camadas de colares com pedras coloridas), ela é a tradução de um estilo boho-chic que nunca sai de moda.
“Descobri cedo que usar um poncho ou uma capa podia se transformar em um elemento de performance, criando movimento e deixando que eu fosse vista de uma grande distância. Eles se tornaram parte do meu estilo”, conta a musa.
Look (e álbum) do dia
A intenção é vestir roupas que proporcionem liberdade, expressando doses de paz e amor. Uma das grifes a trabalhar essa silhueta com maestria é a francesa Chloé, que traz o espírito boho em seu DNA, assim como a moderna Isabel Marant.
Já a italiana Missoni é conhecida pelos seus tricôs e pelas suas estampas coloridas que inspiram looks boêmios há décadas. "Cor? O que posso dizer? Gosto de comparar cores à música: são apenas sete notas e, ainda assim, inúmeras melodias já foram compostas", disse o fundador da grife, Ottavio Missoni, em sua biografia.
Ainda na escola italiana, a Etro e a Emilio Pucci são outros dois nomes que não podem faltar na história do boho.
Volta vintage
Apesar de o termo vintage fazer referência direta a uma época de prosperidade econômica e cultural nos Estados Unidos, hoje a palavra é mais usada para designar itens antigos ou um estilo que remete ao passado.
Além de únicas e duradouras, outra vantagem das peças vintage é a modelagem diferenciada e o look que remete a uma época em que a moda não tinha regras. "Tenho muitas curvas, então lojas vintage são muito mais úteis para mim", revela a cantora Marina and the Diamonds.
Assim como Marina, Florence Welch faz uso de roupas, sapatos e acessórios garimpados em brechós de luxo para compor uma trajetória musical (e fashion) que funde um pouco de Stevie Nicks e um pouco de Joni Mitchell.