Como não amar um tecido que evoca, ao mesmo tempo, a elegância da realeza, a liberdade dos anos 70 e a rebeldia do rock? Apesar de nunca ter ido embora completamente, a moda veludo vive um novo momento nas mãos de designers e bloggers da nova geração.
Em sua mais recente reencarnação, ele surge em silhuetas contemporâneas, como vestidos bodycon e terninhos, além de sapatos e acessórios. A pegada é menos hippie e mais grunge ou até mesmo barroca.
Podendo ser feito de seda, algodão, nylon ou lã, o veludo percorreu um longo caminho até se tornar o tecido da realeza na Europa renascentista e, séculos depois, o uniforme da boemia.
As origens do veludo
Não se sabe ao certo quando o veludo foi criado, mas acredita-se que suas origens estejam no Oriente. Dinastias chinesas como a Qin e a Han, no poder cerca de 200 anos antes de Cristo, já usavam peças em veludo feito de seda.
No Ocidente, os principais polos produtores do tecido foram estabelecidos no Egito e no Iraque. A partir daí, os europeus passaram a trabalhar com o veludo especialmente na Itália e Espanha renascentistas. O veludo fazia parte não só de roupas, mas também de móveis e cortinas, se tornando até papel de parede nas casas da nobreza e do clero. Por esse motivo, o tecido logo se tornou sinônimo de extravagância e distinção.
Com a Revolução Industrial, a produção de veludo ficou mais fácil e barata. Ainda assim, nos anos 20, as classes mais altas continuavam usando vestidos e xales de veludo como um símbolo de poder aquisitivo. Nessa mesma época, estampas em veludo devorê se tornaram populares. Elas voltaram entre as grandes tendências da década de 90, na pele de ícones como Winona Ryder e Drew Barrymore, e também já tinham conquistado corações durante os anos 70.
That 70’s velvet
Foi na década dos hippies e boêmios que o veludo demostrou toda a sua versatilidade em vestidos, calças boca de sino, saias e até macacões.Naquela época, tons terrosos eram os preferidos, principalmente em veludo cotelê.
Hoje, no entanto, o tecido ganha novas cores e estampas, como o patchwork trabalhado pela Chloé em sua última coleção de inverno. A técnica foi incluída em diferentes modelos de calça de veludo feminina, além de um longo vestido de veludo preto. “A mulher desta coleção é muito feminina, mas também muito confiante”, diz Clare Waight Keller, atual designer da marca.
Fora das passarelas, o veludo também conquistou as ruas. A modelo Georgia May Jagger escolheu um macacão de veludo molhado da grife Sonia Rykiel para uma de suas aparições na Semana de Moda de Londres.
Com Julie de Libran à frente da marca, as passarelas recentes da Rykiel incluíram looks totalmente pretos em veludo cotelê e veludo molhado. “A mulher Rykiel é alguém que se sente livre, independente e divertida, feminina e sexy e cheia de surpresas. Só estou tentando adaptar isso à nossa geração”, diz a designer.
Drama queen
Em 1986, David Lynch lançou o cult Veludo Azul, eternizando o tecido não só no título do filme, mas também em pelo menos dois looks da protagonista Dorothy Vallens, interpretada por Isabella Rossellini. O figurino, assinado por Patricia Norris, colocou Rossellini no icônico robe de veludo molhado azul e ainda em um vestido de veludo preto.
Além de dramáticas, as roupas dos anos 80 também podiam ter um aspecto romântico, criado com ombros largos ou expostos, mangas bufantes e saia de veludo com modelagem ampla.
Uma das grifes a apostar nessa tendência foi a Valentino, responsável por um editorial na Vogue americana em 1982, onde a então modelo e hoje atriz Andie MacDowell vestia diferentes looks em veludo vermelho e preto, incluindo vestidos, saias e luvas.
Para a moda inverno deste ano, a Givenchy seguiu o mesmo caminho e incluiu o vestido de veludo longo em sua coleção. Há mais de dez anos trabalhando na grife, Riccardo Tisci apresentou várias combinações de veludo molhado azul, bordô e preto na Semana de Moda de Paris.
Novos rebeldes
O veludo molhado também conquistou as fashionistas que combinam o estilo rocker com uma forte dose de feminilidade. A blogger peruana baseada em Nova York, Luanna Perez, autora do blog Le Happy, foi uma das primeiras a adotar a calça de veludo feminina do tipo legging. Ela é uma das representantes do pastel grunge, conhecido como uma versão suave do grunge dos anos 90, uma subcultura que nasceu da internet e chegou às ruas através de vestidos e saias amplas de veludo molhado em tons escuros como preto, roxo e bordô.
Combinado com camisetas de banda, chapéus com aba larga, maquiagem pesada e acessórios prateados, o veludo molhado traz de volta o estilo boêmio dos anos 70 com o peso do rock.
Material frágil
Apesar dessa conotação mais rebelde, vale lembrar que o veludo é um tecido sensível que requer cuidados específicos de conservação. É sempre importante ler a etiqueta e seguir as recomendações do fabricante. Isso porque as orientações variam dependendo do tipo de veludo e alguns só permitem lavagem a seco. Além disso, não se deve passar a ferro uma roupa de veludo. É recomendado usar apenas passadeiras a vapor caso a peça esteja muito amassada.
Durante o verão, guarde as peças sem dobrá-las para não criar vincos difíceis de serem removidos. Se isso não for possível, a dica é colocar lenços de papel entre as dobras. Assim, as suas roupas durarão tanto quanto o apelo do veludo e continuarão lindas e conservadas, tendência após tendência.