Mesmo às vésperas da Revolução Francesa, quando o país mergulhava em uma profunda crise, a regra entre as mulheres do Palácio de Versalhes era uma só: inspirar-se no estilo Maria Antonieta, a rainha que se imortalizou não por seu papel na história política, mas como um dos maiores ícones de estilo de todos os tempos.
Rainha cool
Sua influência é tão duradoura que, em 2006, Sofia Coppola levou às telonas uma amostra dessa exuberância no filme Maria Antonieta, protagonizado por Kirsten Dunst. Dando um tom jovem e descolado à narrativa, a diretora tornou a obra uma das principais referências de figurinos de cinema, inclusive levando o Oscar da categoria em 2007.
Pudera. Milena Canonero, figurinista do longa, combinou a pesquisa histórica com um trabalho sofisticado de costura para recriar os vestidos de Maria Antonieta. Detalhe: em certas cenas, Sofia Coppola inseriu também elementos da moda contemporânea, como o icônico All Star azul bebê e a peruca cor-de-rosa usada pela protagonista.
E é importante conhecer a biografia de Maria Antonieta para entender por que esse tipo de ousadia faz sentido. Antes de se casar com Luís XVI em 1770, a corajosa princesa austríaca teve que abrir mão de todas as suas roupas para adentrar o território francês, em um verdadeiro ritual de passagem.
Nessa adaptação à cultura francesa, especialmente quando se tornou rainha em 1774, ela acabou se apaixonando pela moda do país. E precisou entender as rígidas regras de etiqueta que incluíam não usar uma mesma roupa mais de uma vez e apostar nos volumes e no glamour.
Quem viu o desfile rococó da Fendi para o verão 2017 sabe do que estamos falando: brocados, maxiflorais e sobreposições fazendo parte de um mesmo look, por exemplo.
O mesmo valia para os cabelos de estilo barroco, uma inspiração ainda presente em marcas contemporâneas que têm a extravagância como assinatura.
Baroque Nouveau
Um exemplo clássico veio de Alexander McQueen, que, enquanto diretor da Givenchy, subverteu as perucas brancas colocando um modelo preto e volumoso em Naomi Campbell durante um desfile de 1997.
A alta-costura, aliás, bebe dessa fonte até hoje. Sabe o guardainfante, aquele suporte usado para sustentar as saias das francesas da época da corte? Volta e meia ele reaparece em versões conceituais. Vivienne Westwood que o diga. E os temidos – e sedutores – corsets, ou espartilhos, que afinavam a cintura e acentuavam o busto? Algumas coleções da Christian Dior levaram essa referência de maneira literal para as passarelas, enquanto Yohji Yamamoto optou por desconstruir a peça em um desfile com muito vermelho, em 2011.
Em 2018, Giambattista Valli trouxe de volta babados, mangas bufantes e tons pastel, enquanto o corset ganhava novas interpretações em grifes como Victoria Beckham e Hood By Air. Já a Luisa Beccaria propôs uma Maria Antonieta bem mais romântica, com um quê de princesa da Disney.
Da realeza ao streetwear
E Maria Antonieta continua em alta. Para a primavera deste ano, a Marc Jacobs trouxe a essa referência um tempero de subcultura ao adaptá-la a uma versão Lolita. A tendência do corset também voltou em uma adaptação streetwear feita pela Fenty x Puma. Com uma coleção predominantemente rosa, foram as amarrações, os tecidos esvoaçantes, as estampas florais e o brilho acetinado que trouxeram o charme da realeza às passarelas.
Já nas ruas de Tóquio e nos centros urbanos de todo o mundo, o estilo Lolita mantém viva e forte a inspiração da rainha dos brioches, em vestidos de saias volumosas e nas candy colors trabalhadas por grifes japonesas, como a Baby, The Stars Shine Bright. É a prova de que o estilo de uma das mais icônicas rainhas francesas não têm fronteiras no tempo nem no espaço.
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