Um rápido passeio pelas ruas mais antenadas do planeta comprova que a moda anos 90 é novamente a grande referência do que é cool. Tim Blanks, editor do site The Business of Fashion, chegou a comparar a década aos anos 70 em termos da influência que exerce atualmente.
Inaugurada com a ascensão do minimalismo, que prometia ser um antídoto aos excessos da década anterior (ombreiras gigantes, doses cavalares de laquê e um caleidoscópio de cores fluorescentes, para citar apenas alguns), não demorou muito para que a nova era se tornasse a mais diversificada de todos os tempos. Peças tão oversized quanto o nível de celebridade das modelos que as desfilavam e o aparecimento da estética esportiva nas passarelas são apenas alguns exemplos da revolução que a moda sofreria nos anos seguintes.
Além de Cindy, Claudia, Naomi e Kate, um ícone inusitado definiu a época: Kurt Cobain. De repente, cabelos sujos e roupas rasgadas ficaram chic e, quando menos se esperava, lá estavam as cores fluorescentes e as estampas geométricas de volta, marcando a incorporação do hip-hop à moda comercial (vide o figurino de Will Smith na série The Fresh Prince of Bel-Air).
Smells Like Teen Spirit
É impossível dissociar os anos 90 do movimento grunge e seu uniforme de cinza, preto, jeans e xadrez. Uma das consequências mais óbvias dos anos 80 foi a saturação do exagero e, talvez por isso, as cores vivas tenham sido as primeiras a desaparecer do cenário fashion na década seguinte.
Quando o grande público começou a rejeitar tudo que ignorava a praticidade, os designers foram buscar inspiração nas ruas (e na MTV), encontrando um visual despretensioso inspirado em bandas como Nirvana e nos filmes de Larry Clark.
O estilo surgiu nas passarelas oficialmente com Martin Margiela e atingiu o mainstream pelas mãos do então iniciante Marc Jacobs. Em sua coleção para a Perry Ellis, o designer nova-iorquino traduziu para uma audiência perplexa todos os códigos que definiam o grunge – estampa xadrez, proporções amplas e os icônicos sapatos Dr. Martens.
Instantaneamente, o conceito foi adaptado por grifes tradicionais de alta-costura e, apesar de ser apelidado de “glamge” (uma mistura de glamour e grunge), manteve o espírito subversivo.
Em sua coleção de primavera-verão 2016, a Saint Laurent mostrou que o grunge continua relevante ao trazer de volta um look digno de Courtney Love e praticamente saído do Lollapalooza 1995, com meias-calças rasgadas, babydolls sobrepostos por jaquetas de couro e botas de chuva. No lugar da maquiagem, as modelos exibiam apenas tiaras de princesa sobre cabelos bagunçados. “Eu sempre preferi as bad girls”, resumiu Hedi Slimane, antes de se despedir da direção criativa da maison francesa.
Menos é mais
Os anos 90 também celebraram o minimalismo, outra tendência que renegava a extravagância. Muito diferente do grunge, essa escola era marcada por um classicismo clean. A influência da moda japonesa ficava evidente, indo dos drapeados milimétricos aos detalhes perfeccionistas inspirados em Issey Miyake.
O intelectualismo de grifes como Jil Sander e Helmut Lang provou que era possível construir peças de desejo nas quais os únicos ornamentos eram os cortes arquitetônicos e os tecidos nobres.
O italiano Giorgio Armani surgiu para redefinir o power dressing, criando looks de trabalho bem menos extremos para mulheres que priorizavam o funcionalismo. Seus vestidos drapeados e ternos sequinhos em preto, branco e bege continuam definindo o workwear até hoje, comprovando a teoria do designer de que “simplicidade é o segredo da elegância”.
Mas as novas encarnações do minimalismo – como o normcore – deixaram de se definir pelo look monocromático de seus precursores. Haider Ackermann, por exemplo, faz uma releitura do estilo para o século 21 com peças em crepe laranja, lilás e amarelo – aposta frequente de Tilda Swinton no tapete vermelho – e até mesmo a Jil Sander aderiu às cores desde a passagem de Raf Simons pela direção criativa.
Sportswear x streetwear
Conforto era outra palavra de ordem durante a década de 90 e foi assim que roupas desenhadas para atletas se transformaram em um (colorido) statement. Os agasalhos esportivos invadiram a cultura pop depois de serem adotados pelos integrantes das bandas Blur e Oasis e, mais recentemente, surgiram na passarela de primavera/verão 2016 da Chloé.
As marcas esportivas se tornaram tão desejadas quanto as etiquetas mais cobiçadas de Paris e, com o crescente sucesso de grifes que apostavam no surf e skatewear, com a Stüssy, o universo da moda não teve escolha a não ser incorporar mais uma tendência ao seu repertório.
A Adidas foi uma das primeiras a realizar colaborações com estilistas famosos. Um exemplo atual é a Y-3, com Yohji Yamamoto, além da parceria com Pharrell Williams, que trouxe de volta o tênis retrô Superstar.
A moda dos anos 90 também popularizou elementos do hip-hop, com destaque para o macacão jeans, que vem sendo ressuscitado por uma gama de celebridades que vai de Alexa Chung a Sarah Jessica Parker.
Em sua recente homenagem ao estilo hip-hop, Jeremy Scott trouxe à Moschino uma linha repleta de calças de moletom, jaquetas bomber, parkas coloridas e bonés de couro – tudo amplificado por altas doses de dourado em sapatos, correntes, cadeados e slogans.
Grife favorita de ícones pop como Beyoncé e Björk, a Moschino escalou um time de top models da época, como Linda Evangelista, para estrelar suas últimas campanhas publicitárias, provando que certos clássicos realmente nunca saem de moda.