tendências & subculturasquarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Materiais importam: tecidos ecológicos para conhecer

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ESCRITO POR ASHLEIGH GRIBBON

TRADUZIDO E ADAPTADO POR PAMELA PUGLIERI

 

Par de brincos de prata reciclada, All Blues. Blazer e calça de linho, Materiel.

 

As peças pioneiras de Re-Nylon reconstruídas da Prada; o mais recente tênis Basket unissex Gucci, feito com um novo tecido livre de crueldade animal, o Demetra; o couro vegano Stella McCartney, Mylo, cultivado em laboratório por cientistas a partir de cogumelos. O design consciente é a nova fronteira da moda e, em seu cerne, estão alguns dos tecidos mais engenhosos e ecológicos do mundo.

 

Feitos com processos de menor impacto e mais ecológicos, esses têxteis de origem responsável podem contribuir para a redução do desperdício ao reparar, reciclar ou reaproveitar peças existentes, ajudando a promover uma economia de moda circular e a reduzir as emissões de carbono, regenerar o solo e conservar a água. 


Leia aqui as opiniões de três especialistas sobre os novos tecidos que estão dando o pontapé inicial rumo a um futuro melhor: Céline Semaan, diretora executiva da organização em favor do clima The Slow Factory; Amanda Johnston, curadora e consultora do The Sustainable Angle; e James Perlman, fundador da revista de sustentabilidade More or Less. Visite a ferramenta Fashion Footprint da FARFETCH para aprender um pouco mais sobre os materiais presentes em suas roupas e o passo a passo para fazer escolhas mais inteligentes e conscientes no seu guarda-roupa.

 

Trench coat de tencel e camisa de couro vegano, Nanushka.

 

A importância de uma escolha consciente

 

"É muito importante que as marcas repensem suas práticas de produção para se tornarem mais ecologicamente corretas, e os materiais sustentáveis desempenham um grande papel nisso", explica Jaime Perlman, fundador da More or Less, uma revista de publicação semestral e plataforma digital que promove o consumo de moda responsável. "Tem sido ótimo que as grandes marcas coloquem a mão na massa ao experimentar novos materiais e criar coleções-cápsula ecológicas. O desenvolvimento de novos materiais que minimizam o desperdício e requerem menos energia na produção do que os tradicionais diminuirá o impacto da moda no planeta tanto quanto possível. O verdadeiro compromisso com a causa, no entanto, é ter um plano de longo prazo que busque incorporar às coleções apenas materiais que gerem menos desperdício. Nenhum desses materiais é perfeito e isso deve ser levado em consideração. Embora otimizemos a pegada de carbono do mundo da moda, não a estamos apagando por completo e, por isso, todas as marcas precisam ter em mente o conceito de circularidade."

 

“No momento, temos mais microplásticos no oceano do que estrelas na Via Láctea”, revela Céline Semaan, da Slow Factory. "Eles são a causa número um da corrosão dos recifes de coral, e vêm, em sua maioria, dos fluxos de resíduos da indústria da moda - seja em nível individual, quando lavamos nossas roupas, ou de fábricas que liberam esses plásticos nos oceanos, devido ao manuseio de corantes tóxicos. Esse é um grande problema que a indústria da moda precisa levar em consideração." 

 

"Mais de 80% do impacto ambiental de um produto pode ser atribuído apenas à escolha do material", diz Amanda Johnston. "No Sustainable Angle, o foco está nos materiais como forma de educar, informar e apresentar soluções mais responsáveis para a indústria da moda. Bethany Williams, finalista do Prêmio LVMH, visualiza e incorpora a sustentabilidade por meio de uma abordagem de 360 graus: reconhecendo a materialidade e o desperdício e priorizando a justiça social e ambiental por meio de suas práticas e operações de design."

 

Vestido de tencel, Low Classic. Bolsa Econyl, Stella McCartney.

 

Celulose reconstruída: Lyocell

 

"A viscose tradicional é feita da polpa da madeira e está associada ao desmatamento e a efluentes químicos tóxicos. Já o Lyocell está ligado a um processo sustentável de ciclo fechado que captura e reutiliza os produtos químicos de processamento", explica Johnston. "O tencel é uma fibra de Lyocell sustentável, produzida a partir da inovadora celulose reconstruída da Lenzing, que usa madeira de fontes certificadas como matéria-prima."

 

"Como o Lyocell requer o uso de polpa de madeira, é importante levar em conta a forma como ela é colhida e como o seu habitat natural e a biodiversidade estão sendo preservados. Isso é de responsabilidade da empresa que produz esses materiais", acrescenta Semaan. " O Lyocell é sustentável porque impede que a indústria do algodão seja sobrecarregada já que, neste momento, há uma escassez global na colheita da planta. A camada superficial do solo resistirá apenas mais 60 anos para a agricultura, incluindo o algodão. Como essa é uma cultura que exige muita água, mesmo em plantações orgânicas, ela pode causar seca. É por isso que precisamos encontrar alternativas."

 

Jaqueta e bermuda de nylon reciclado, Raeburn. Bolsa de couro vegetal e algodão reciclado, Bonastre.

 

Encerrando o ciclo do desperdício: Econyl

 

Por causa da transparência em seu processo de produção, o Econyl rapidamente se tornou uma alternativa consciente para os grandes nomes da moda, com marcas como GucciBurberry Prada utilizando o substituto do nylon reciclado em suas coleções recentes. Desenvolvido pela empresa têxtil italiana Aquafil e lançado em 2011, o Econyl é um tecido de nylon produzido a partir de resíduos de reaproveitamento, como redes de pesca e sobras de produção têxtil destinadas ao descarte. Ele tem as mesmas características e semelhança física com o nylon tradicional, mas possui propriedades biodegradáveis, podendo ser decomposto e recriado em novos materiais repetidamente, desviando os resíduos dos aterros e oferecendo reduções significativas nas emissões de CO2. A grife italiana Prada fez, recentemente, uma parceria com a Aquafil em seu projeto Re-Nylon: uma colaboração que evidencia a promessa da marca de converter todo o seu nylon virgem em Re-Nylon até o final de 2021. Em vez de utilizar plástico bruto e petróleo, o Econyl é feito de resíduos e, portanto, há uma circularidade”, explica Semaan. "Mara Hoffman foi a pioneira no uso de Econyl em suas coleções. Ela foi a primeira a dar uma chance ao tecido e a popularizá-lo."

 

"É importante observar que a matéria-prima para o nylon virgem é um plástico feito de petróleo bruto e, como tal, é um material tóxico que precisamos parar de produzir", observa Johnston. "No entanto, como já existe muitos resíduos desse material na biosfera, iniciativas e materiais que fazem uso desse lixo oferecem uma solução provisória para o desacoplamento dos produtos petroquímicos [produtos químicos derivados do petróleo ou gás natural]", acrescenta ela. 

 

O fundador da More or Less, Jamie Perlman, ecoa: "Usar o Econyl como alternativa ao nylon virgem é definitivamente um passo na direção certa. Mesmo assim, ele não é totalmente imune à liberação de microfibras quando lavado. Para ajudar a solucionar esse problema, os consumidores podem investir em um saco especial que impede a liberação de micropartículas de nossas roupas quando lavadas."

 

Blazer e calça jeans de algodão orgânico, Remain. Blusa, KNWLS.

  

O novo tecido cruelty-free da Gucci: Demetra

 

Continuando a liderar a conversa sobre moda consciente, a potência italiana Gucci lançou um novo tecido ecológico e livre de crueldade chamado Demetra. Ele é feito com 77% de matérias-primas vegetais e oferece à indústria um substituto escalonável para subprodutos animais. Trata-se de uma novidade que coincide com o lançamento da última edição do tênis Basket unissex de inspiração retrô. O Demetra é produzido na Itália, como grande parte do resto dos materiais da marca, e levou dois anos para ser desenvolvido. Essa alternativa inovadora para o couro em breve será parte da tão amada oferta de sapatos, bolsas e acessórios da marca, que tem como objetivo tornar o tecido disponível para a indústria da moda em geral até 2022. "A Demetra oferece à nossa indústria uma escolha alternativa facilmente produzível em escala. Além de mais sustentável, o material também atende à demanda de soluções livres de produtos de origem animal", diz Marco Bizzarri, presidente e CEO da Gucci.

 

Um dos tecidos mais antigos do mundo: linho


Feito das sementes de uma planta capaz de crescer em terrenos áridos, onde as plantações de alimentos são impossibilitadas, e que requerem muito menos água do que o algodão, o linho é um dos tecidos mais antigos e sustentáveis do mundo. Curiosidade: essa fibra naturalmente biodegradável remonta a 8.000 a.C. e os egípcios costumavam usá-la como uma forma de moeda. Cada parte da planta do linho pode ser usada para criar produtos, incluindo óleo de linhaça e ômega 3, o que significa que o desperdício é zero. De acordo com a Confederação Europeia de Linho e Cânhamo, "em todo o seu ciclo de vida, a produção de uma camisa de linho usa 6,4 litros de água", em contraste com 2.700 litros para uma camisa de algodão. Nesta temporada, marcas como Materiel, Jacquemus e AMBUSH dão um olhar contemporâneo ao linho em peças de alfaiataria e jaquetas de design. 

 

Jaqueta de linho, AMBUSH. Colete de algodão orgânico, Marine Serre. Calça de algodão orgânico, Sunflower.

 

Inovando nos materiais: Mylo e NuCycl

 

"É crucial que [as grandes marcas da moda inovem], pois suas atitudes serão seguida pelo resto da indústria", explica Johnston. "Elas desempenham um papel importante na incorporação da sustentabilidade nos sistemas de valores e operações das marcas. Atualmente, o que se vê é um aumento no investimento em materiais sustentáveis de todos os tipos. As principais inovações que estão prestes a fazer a diferença são [fibras e tecidos] cultivados e produzidos de modo a reparar ecossistemas danificados, restaurar o solo e terras agrícolas, bem como aqueles que recuperam o valor de resíduos por meio da reciclagem. Vemos também novas alternativas ao couro em resposta ao efeito catastrófico da pecuária intensiva sobre o desmatamento. Esses materiais usam matérias-primas com base biológica de resíduos agrícolas, como folhas de abacaxi ou cacto, ou são bio-fabricados a partir de sistemas de raízes de fungos, por exemplo." 

 

Como uma voz pioneira do veganismo na indústria por quase duas décadas, não surpreende que Stella McCartney esteja liderando este espaço. A parceria da marca com a Bolt Threads - uma empresa de biotecnologia focada na criação de biomateriais e tecidos de moda sustentável - levou à criação de um novo "couro" de base biológica chamado Mylo, cultivado em laboratório a partir de cogumelos. 

 

Desenvolvido pela Evrnu - uma empresa de fabricação de fibras têxteis dedicada em criar um ecossistema circular na indústria dos tecidos por meio de tecnologia inovadora - o NuCycl é uma fibra regenerativa que purifica os resíduos de vestuário e os converte em celulose para criar novos tecidos premium. Ele permite que 100% dos resíduos têxteis pós-consumo sejam transformados em roupas novas inúmeras vezes - uma abordagem progressiva para lidar com as 92 milhões de toneladas de resíduos liberados anualmente na indústria da moda. "[O NuCycl] é um novo material maravilhoso", diz Semaan. "É uma fibra de celulose feita a partir de resíduos têxteis. Stella McCartney fez um protótipo com a adidas alguns anos atrás. É uma fibra interessante porque a origem não está nos recursos naturais, como árvores, solo e plantas - mas em resíduos têxteis. Este é o futuro e é para cá que devemos começar a olhar." 

 

"Para mim, o futuro consiste em abraçar a ciência", continua Semaan. "No ano passado, meu parceiro de negócios e eu lançamos o primeiro [projeto] de ciências na indústria da moda, chamado One X One. Combinamos designers com cientistas porque, se quisermos olhar para a inovação, precisamos trabalhar em vários setores. Do design à ciência, a criação de uma linguagem comum permite que os designers entendam os cientistas e que os cientistas entendam os critérios e restrições do design. Quando olhamos para o mundo como um ecossistema, percebemos que não há fronteiras entre ciência e design, entre espiritualidade e cultura. Este é o objetivo da Slow Factory: trabalhar em todos os setores de forma positiva para acelerar a inovação. O futuro da indústria da moda é abraçar a colaboração transcultural e intersetorial. Trata-se de abraçar a ciência."

 

 

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