Nos últimos dois anos, a importância da semana de moda passou a ser questionada no mundo inteiro. Culpa do Instagram que, com seu ritmo frenético, coloca no ar tudo o que acontece nas passarelas em tempo real, dando pistas para consumidores e fabricantes de fast fashion sobre o que será tendência na estação e transformando toda a lógica da sazonalidade.
A recente instituição do “see now, buy now” tenta se adaptar aos novos tempos, mas a verdade é que a história da moda não seria a mesma sem a estruturação dos calendários de desfiles.
De Paris à São Paulo, foram os desfiles de estilistas famosos, como Alexander McQueen e Alexandre Herchcovitch (hoje à frente da À La Garçonne), que ajudaram a moda a ser o que ela é atualmente. E que continuam fazendo a roda girar.
História: semana de moda
Essa roda, aliás, gira desde 1910, aproximadamente, quando os primeiros estilistas-celebridade, como Paul Poiret, passaram a apresentar suas criações em salões privados ou lojas de departamento, como a Printemps. Era o surgimento dos desfiles como conhecemos hoje.
Mas foi do outro lado do Oceano Atlântico que a jornalista americana Eleanor Lambert organizou uma Press Week, em 1943. Eram os primórdios da semana de moda.
Ela nem desconfiava que poucas décadas depois sua ideia geraria tanto burburinho nas passarelas e fora delas. Afinal, o que seria de uma Fashion Week hoje sem os looks de streetstyle que transformam garotas comuns, como Chiara Ferragni, Camila Coelho e Olivia Palermo, em verdadeiros ícones de estilo?
Nasce o prêt-à-porter
Se antes a moda era restrita a uma minoria abastada que podia comprar a alta-costura, o enredo passou a mudar na década de 70, graças ao prêt-à-porter – a roupa pronta para usar, feita em série –, movimento encabeçado por Saint Laurent, um dos pioneiros nesse quesito.
Era o primeiro passo da chamada democratização da moda, bem antes do fenômeno do fast fashion. O prêt-à-porter foi organizado pela Câmara Sindical da Alta-Costura francesa em 1973, dando origem a uma nova instituição e ampliando a área de atuação dos melhores estilistas do mundo.
Foi graças à Semana de Moda de Paris, por exemplo, que passamos a conhecer o talento dos estilistas de moda da escola japonesa, capitaneada por Rei Kawakubo (da Comme des Garçons), Issey Miyake e Yohji Yamamoto. Alguns dos desfiles mais icônicos do mundo, como os de Hussein Chalayan, também foram realizados lá. Eles marcaram época e impulsionaram todo o setor.
Made in Brazil
Por aqui, a história não é diferente. Criado em 1993 por Paulo Borges, quando ainda era conhecido como Phytoervas Fashion, o São Paulo Fashion Week foi e é palco dos maiores talentos made in Brazil.
Foi por meio do SPFW que os consumidores puderam se emocionar com apresentações de estilistas brasileiros como Jum Nakao, que fez um desfile com roupas inteiras confeccionadas em papel. O evento também é palco para a descoberta de novos designers, caso de Lilly Sarti e Giuliana Romanno.
O mais interessante, porém, é acompanhar a evolução de nomes que estão no line up desde a primeira edição, como Alexandre Herchcovitch, Gloria Coelho e Ronaldo Fraga.
Novo milênio
A NYFW também tem seus participantes fiéis, como Marc Jacobs e Alexander Wang, que continuam surpreendendo a cada estação. E não medem esforços para isso.
De um petit comité no comecinho do século 20, os desfiles se transformaram em grandiosos shows. A Fendi, que participa da Milan Fashion Week e também da Semana de Alta Moda, em Roma, já usou locações espetaculares como a Fontana di Trevi e a Muralha da China.
Já o maior impacto tecnológico ficou por conta da Burberry. Foi na London Fashion Week que aconteceu a primeira transmissão ao vivo de um desfile para todo o planeta, em 2010. Era o aviso da marca de que as semanas de moda não estavam com os dias contados, mas sim em transformação.