Escrito por Stephen YU
Traduzido e adaptado por Pamela Puglieri
Em 1854, após séculos de isolamento da influência estrangeira, o Japão abriu suas portas para o Ocidente após o contato com a frota naval americana sob o comando do Comodoro Matthew C. Perry. Pouco mais de um século depois, a capital da moda mais impenetrável do Ocidente, Paris, abriria suas portas para os japoneses. Em 1981, os estilistas Rei Kawakubo e Yohji Yamamoto voaram de Tóquio à França e apresentaram a moda japonesa pela primeira vez para um público ocidental e, desde então, as passarelas são fortemente influenciadas pelos designers do país.
Nos anos 80, a singular marca de Kawakubo no Japão desafiou o universo da moda com seus tecidos puídos e costuras inacabadas, em contraste com o glamour extravagante da época, marcado pelos ternos Armani em Wall Street e socialites usando Versace. Hoje em dia, o design de vanguarda e a reputação radical que tanto chocaram o mercado de moda ocidental representam exatamente o motivo pelo qual a moda japonesa é tão procurada. Enquanto as formas inventivas e os tons monocromáticos que definiram as pioneiras marcas japonesas foram aclamados por especialistas da indústria e pela elite, foram as marcas de streetwear do país que levaram a moda oriental ao mainstream. Na década de 1990, quando a inovação tecnológica do pós-guerra e o boom econômico impulsionado por empresas como Sony e Panasonic começaram a estagnar, marcas japonesa mais acessíveis e casuais passaram a ganhar mais espaço, como o streetwear Harajuku e as subculturas em expansão, a exemplo das estudantes de Kogyaru. No final dos anos 90, marcas como A Bathing Ape se tornaram parte da cultura pop americana e criaram o modelo de venda de peças com tiragem limitada.
Os estilistas japoneses continuam sendo um dos mais fascinantes no cenário da moda global, seja pelo esforço em dominar técnias e materiais tradicionais do Japão, explorar a moda vintage americana melhor do que os próprios americanos, ou definir o futuro da moda contemporânea com sua ultramodernidade. Aqui está nossa seleção de algumas das marcas mais icônicas e promissoras de Tóquio.c
As melhores marcas japonesas
Sacai
A Sacai tem tudo para se tornar a próxima superpotência do Japão. Marcas renomadas como Apple, The North Face e Beats estão ansiosas por collabs com a marca fundada por Chitose Abe. O mais incrível é que a Sacai começou como uma coleção de tricôs criada por Abe durante sua licença maternidade. Antes de fundar sua marca e depois de trabalhar como modelo para a Comme des Garçons, Abe passou a trabalhar para Junya Watanabe no lançamento de sua coleção masculina, então podemos dizer que ela aprendeu com o melhor. O que a Sacai faz de melhor é romper a barreira entre o casual e o formal, criando roupas perfeitas para qualquer ocasião. Com inspiração no sportswear, a marca trabalha com peças híbridas que combinam duas roupas diferentes, como a fusão da jaqueta bomber M-A1 com uma saia. Junto aos detalhes típicos de Abe, como babados, cortes assimétricos e patchwork, a Sacai exibe peças únicas confeccionadas com maestria e voltadas para o conforto. A recorrente collab com a Nike é a maneira mais acessível de adicionar uma peça à sua coleção. Nela, as collabs de sneakers são ressignificadas a partir da hibridização de dois clássicos da Nike em um único sapato.
Undercover
Jun Takahashi é um dos poucos estilistas japoneses com o poder de criar uma das marcas de streetwear mais cults e descoladas do mundo e ainda assim exibir um dos desfiles mais esperados e bem recebidos na Fashion Week de Paris. A collab da Valentino com a Undercover em 2019 demonstra bem o que a indústria da moda pensa sobre o trabalho de Takahashi. A marca, que começou como um streetwear punk inspirado no The Sex Pistols, logo ganhou o seu espaço ao explorar o contraste dos opostos, com peças fofas, assustadoras, bonitas e estranhas ao mesmo tempo. Embora Takahashi tenha abandonado a moda feminina, o foco na masculina tornou a Undercover ainda mais subversiva ao trazer algumas de suas referências culturais favoritas, como estampas com as capas de álbuns do Joy Division ou filmes de Stanley Kubrick. As collabs da marca se mantêm fiéis à sua filosofia de praticidade, como visto nas coleções feitas com a Supreme e a Gyakusou, sua linha de corrida com a Nike, que são algumas das mais procuradas no mundo do streetwear.
Comme des Garçons
A Comme des Garçons foi fundada em 1969 pela inegável rainha da moda japonesa Rei Kawakubo (que ao lado do então parceiro romântico Yohji Yamamoto surpreendeu a indústria da moda quando apresentou sua coleção seminal "Black Crows" durante a Paris Fashion Week de 1982). Desde então, ela evoluiu e passou a abranger todo um universo de subdivisões, collabs e marcas. Embora Kawakubo nunca tenha abandonado a sua tradicional afinidade por tecidos pretos destroyed e detalhes desfiados, a marca agora é mais conhecida pela Play, sua linha casual de luxo com a icônica estampa de coração encontrada em peças básicas e nos tênis Converse vistos em todos os cantos do mundo. A Comme Des Garçons mantém sua originalidade ao desafiar o status quo com suas referências radicais, proporções pouco convencionais e desfiles abstratos. Aproximando-se da arte com suas formas esculturais, a linha principal da Comme Des Garçons costuma estar repleta de puídos, detalhes destroyed e desconstruções, mas uma coisa é certa: a marca é indefinível. Junto com a linha principal, linhas de difusão como Shirt, Deux e Homme Plus estão sempre trazendo surpresas para o mundo da moda no verdadeiro estilo punk.
Junya Watanabe
A moda japonesa segue duas tendências principais, e Junya Watanabe está ligado a ambas. Em primeiro lugar, ele estudou na Bunka Fashion College, assim como Yohji Yamamoto e Jun Takahashi. Em segundo lugar, trabalhou na Comme des Garçons de 1984 a 1992 e, em seguida, como designer-chefe para a sua marca Tricot. Depois de fundar sua marca homônima como parte da Comme Des Garçons, ele se mudou para Paris, que parecia o destino natural para sua moda de vanguarda. Apelidado de "tecno de alta-costura", o trabalho de Watanabe é visto como um dos mais intelectuais da moda, desafiando tanto shape e design quanto usabilidade. Suas peças de vestuário são, em geral, extremamente estruturadas e feitas com tecidos tecnologicamente avançados (muitas vezes coleções inteiras focam em um único tecido) ou confeccionadas com cortes intrincados e drapeados. Embora sua abordagem seja bem experimental, muitas vezes o centro do trabalho do estilista é fazer o velho parecer novo. Por exemplo, a linha masculina pega o que ele chama de "roupas burras" - trench coats, jaquetas biker e camisas - e as recria em shapes inovadores. Watanabe será sua escolha se você busca roupas inteligentes e funcionais ou jeans elevados ao nível da alta-costura.
Yohji Yamamoto
Antes de fundar sua marca homônima, Yohji Yamamoto estudava direito. Porém, seguindo o conselho de sua mãe costureira e sob a tutela de suas assistentes, Yamamoto acabaria ganhando uma viagem de um ano a Paris financiada pelo prestigioso Bunka Fashion College de Tóquio. Lá, ele aprimorou sua sensibilidade para a moda e abriu sua primeira loja nos anos 1980. Assim como Rei Kawakubo, Yohji Yamamoto ganhou seu espaço na lendária Paris Fashion Week de 1982, na qual ele apresentou peças esfarrapadas e sem acabamento com bainhas desfiadas, dando a impressão de terem sido costuradas no último minuto. Mantendo-se fiel à sua visão original, a marca homônima de Yamamoto e sua linha feminina de ready to wear, Y’s, ainda são adoradas por artistas urbanos graças aos seus drapeados esvoaçantes, à desconstrução aparentemente casual, à ambiguidade de gênero e muito preto. Sempre inovador, Yamamoto foi o precursor da atual fusão de roupas esportivas e alta costura com sua coleção Y-3 produzida em collab com a adidas.
ISSEY MIYAKE
Depois de passar por algumas das marcas mais prestigiosas de Paris e Nova York, como a Givenchy e a Guy La Roche, Issey Miyake (nome verdadeiro Miyake Kazumaru) decidiu que queria seguir um caminho mais democrático dentro da indústria. Com o objetivo de criar roupas para todos, o período que se seguiu ao primeiro desfile de Issey Miyake em Paris em 1973 foi de brilhantismo conceitual e tecnológico. A marca uniu tecidos orientais antigos usados em quimonos com padronagens e silhuetas ocidentais estudadas pelo designer em sua passagem pela Europa e América. Esta fusão consolidou sua reputação como o estilista que uniu tradição e inovação, leste e oeste. Embora estas criações únicas tenham sido aclamadas pela crítica, Miyake não parou por aí. Fascinado em explorar a relação entre roupa e corpo, ele também buscou ir além quando se trata de tecnologia em tecido. Sua linha Pleats Please explorou roupas impossíveis de vincar através de uma tecnologia inovadora de pregas pressionadas por calor, enquanto seus experimentos com A-Poc (A Piece Of Cloth) exibiu rolos de tricô drapeados sobre os modelos e cortados em um formato específico para criar vestidos personalizáveis e com acabamento. Até hoje, os desfiles de Issey Miyake são adorados por seus tecidos originais e pela inovação tecnológica.
A Bathing Ape
Quando Nigo fundou a A Bathing Ape, ele não tinha ideia de que estava ajudando a criar uma indústria inteira. Embora fruto de necessidade e não de estratégia por questões financeiras de Nigo, a baixa tiragem dos produtos BAPE fizeram com que as peças se esgotassem logo, o que definiu o modelo de exclusividade e lançamentos da maioria das marcas de streetwear modernas. Junto a Jun Takahashi da Undercover, Nigo tornou-se um dos pais fundadores da cultura de rua Ura-Harajuku com a loja Nowhere. Além disso, o uso de cores vivas, estampas de cartoons e camuflagens militares fez da A Bathing Ape a marca perfeita para levar o streetwear japonês para o ocidente. No final dos anos noventa, a marca era usada por todas as grandes estrelas do hip-hop e Nigo inclusive chegou a colaborar com Pharrell Williams no Billionaire Boys Club.
Facetasm
Hiromichi Ochiai é um dos designers mais promissores do Japão. Após ter ganhado o prêmio Mainichi Fashion Grand Prix de melhor novo estilista em 2013, Ochiai fez o seu primeiro desfile em Milão com o apoio da lenda da moda Giorgio Armani em 2015. Apenas um ano depois, Ochiai tornou-se o primeiro designer japonês a chegar às finais do prêmio LVMH, e desde a primavera de 2017 sua marca Facetasm tem sido uma constante na Paris Fashion Week. Um dos segredos de seu sucesso está no nome de sua marca, que deriva da palavra "faceta": Facetasm assume múltiplos significados e suas várias formas são diferentes expressões da cultura de rua de Tóquio. Do streetwear sofisticado à alfaiataria impecável, cada peça é uma autêntica reinterpretação da subcultura japonesa, criada com tecidos sobrepostos e estilos mistos, além das clássicas camadas trompe-l’oeil, estampas descontraídas e cores explosivas.
Julius
O que começou como um projeto de arte audiovisual em 2001 logo se tornou uma marca de moda completa em 2004. Com suas roupas em tons góticos e escuros, a Julius se transformou numa extensão dos fascínios espirituais e religiosos do fundador Tatsuro Horikawa, sem nunca perder suas origens na arte de vanguarda. Com peças colecionáveis e jaquetas de couro muito procuradas, a Julius aposta em roupas feitas a partir de materiais texturizados ou couros com efeito amassado e desbotado para uma estética desgastada. Com cortes muitas vezes sobrepostos ou oblíquos, a obra de Horikawa não é para qualquer um, o que dá à Julius sua reputação de marca para os verdadeiros conhecedores de moda. Peças muito copiadas e altamente influentes como jeans com bainhas extralongas e regatas alongadas possuem design unissex, fazendo com que a Julius seja adorada entre todos os gêneros.
VISVIM
Visvim é o resultado do amor de seu fundador Hiroki Nakamura pelo estilo americano que floresceu durante o tempo que passou nos EUA vivendo no Alasca, explorando a América rural e conhecendo os povos indígenas que viveram lá. Pela sua paixão por snowboard e campismo, Nakamura conseguiu um emprego na Burton Snowboards, o que deu a ele o conhecimento técnico para fundar a Visvim. Sua primeira linha de calçados inclui o icônico sapato FBT, que mistura o bico de um mocassim com o solado leve e acolchoado de um tênis. A peça se tornou um símbolo da abordagem da Visvim ao retrabalhar o estilo americano com tecnologias de performance como a Gore-Tex. Mais recentemente, a marca caiu no gosto de Eric Clapton e John Mayer ao se concentrar na expertise artesã do Japão e usar técnicas como índigo e muddying para criar uma coleção vintage inspirada no "Wabi Sabi". Entre os destaques da Visvim, estão outerwear de inspiração militar, jeans esculpidos, as mochilas Cordura e vários modelos de botas.
Kolor
Junichi Abe, o cérebro por trás da Kolor, estudou na Bunka Fashion College como muitos de seus colegas e também trabalhou na Comme Des Garçons por 5 anos antes de fundar sua própria marca. Abe é único por se afastar do molde tradicional dos designers japoneses, ao criar peças sutis o suficiente para o uso diário, mas repletas de detalhes inteligentes o suficiente para que sejam fascinantes. As peças básicas e clássicas da Kolor têm um ar atemporal e são fáceis de usar. Ao mesmo tempo, após um olhar mais cuidadoso, você perceberá uma ênfase na textura, nos shapes e nos detalhes: encontre combinações de materiais, tecidos cortados até a transparência, color block e uso de estampas. Embora as criações de Abe possam variar de discretas e elegantes a desconstruídas e deslumbrantes, a Kolor equilibra perfeitamente tradição e modernidade com uma estética esportiva que não é somente confortável, mas também bonita.
Sobre a FARFETCH
A FARFETCH é a principal plataforma global de tecnologia para a indústria da moda de luxo. Fundada em 2007 por José Neves pelo amor à moda e lançada em 2008, a FARFETCH começou como um mercado de comércio eletrônico para boutiques de luxo em todo o mundo. Hoje, o Marketplace FARFETCH.com conecta clientes em mais de 190 países a itens de mais de 50 países e mais de 1.300 das melhores marcas, boutiques e lojas de departamento do mundo, proporcionando uma experiência de compra verdadeiramente única e acesso à mais ampla seleção de luxo, com produtos certificados e originais, em uma plataforma singular.
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