Sebastian é um pianista de jazz que precisa dividir seu tempo entre covers de bandas pop dos anos 80 e o trabalho em um restaurante. Mia, uma atriz iniciante, faz bicos atuando em comerciais constrangedores. Unidos pela música e tendo a cidade de Los Angeles como pano de fundo, os dois se apaixonam perdidamente em La La Land, um filme em que o figurino é tão relevante quanto a própria trama.
Se moda e dança caminham juntas, isso se deve em grande parte ao cinema, graças principalmente aos musicais de Hollywood. O longa resgata a atmosfera romântica da época dourada dos grandes estúdios americanos. Repetindo o sucesso de Amor a Toda Prova (2011), Ryan Gosling e Emma Stone interpretam o casal de protagonistas em uma atuação extraordinária com direito a fotografia e direção de arte impecáveis.
Não é à toa que La La Land – Cantando Estações tenha se tornado o favorito da temporada. O musical do diretor Damien Chazelle foi o grande vencedor do Globo de Ouro, arrematando sete prêmios, e brilhou também no Oscar 2017 com seis premiações, incluindo Melhor Atriz e Melhor Diretor, apesar do equivoco no anúncio do prêmio de Melhor Filme (que foi para Moonlight: Sob a Luz do Luar).
Os clássicos do cinema americano e os musicais do diretor francês Jacques Demy estão entre as referências citadas pela figurinista Mary Zophres, responsável por criar os looks que aparecem no filme – e que lhe renderam uma indicação ao Oscar. Mary, que também já havia sido indicada ao Oscar de Melhor Figurino pelo seu trabalho em Bravura Indômita (2010), buscou referências nas páginas de edições contemporâneas da Vogue e nas atrizes legendárias que inspiraram a personagem de Emma Stone, como Ingrid Bergman, Grace Kelly e Katharine Hepburn. “Eu queria inserir o filme nesse período do cinema sem ficar com uma imagem trendy”, declarou.
Peça-chave
O mix entre vestido rodado e sapatos femininos assumiu um lugar de destaque no figurino de Mia. Todos os vestidos que ela usa nas cenas de dança foram feitos especialmente para o longa, inclusive o modelo amarelo com estampas florais que já se tornou um ícone. A única peça assinada é o vestido azul de Jason Wu usado na cena final.
A figurinista contou em entrevista recente que escolheu o amarelo ao estudar os looks de red carpet da atriz. Ao longo da pesquisa, o total look ganhou particular importância. Mary afirma ter ficado encantada com o modelo Versace em tom canário usado por Emma em 2014, durante a divulgação de O Espetacular Homem-Aranha 2 – A Ameaça de Electro. “Na primeira prova de roupa, Emma vestiu a peça e começou a girar”, contou. Para deixá-lo ainda mais especial, o modelo ganhou pinturas florais feitas à mão que remetem aos traços femininos e delicados do pintor francês Henri Matisse.
Enquanto Mia usa e abusa de saias e vestidos rodados que valorizam sua feminilidade, Sebastian investe na alfaiataria. Camisas e calças sociais compõem o figurino romântico e chique do personagem de Ryan Gosling, porém com um toque informal. Para compor seu estilo, a figurinista se inspirou em astros como Fred Astaire, Gene Kelly e Marlon Brando, além de músicos como Bill Evans e Hoagy Carmichael.
Detalhes que fazem a diferença
Dono de um estilo clássico e elegante, Sebastian combina calças e blazers com sapato bicolor. Outro detalhe que valoriza o charme do personagem são as gravatas. Mary conta que as peças usadas pelo ator foram feitas com precisão – nem tão finas, nem tão largas – para compor um look retrô inspirado nos anos 50.
Os looks de Ryan Gosling e as produções em cores primárias de Emma Stone foram resultados de um extenso trabalho de pesquisa da figurinista e sua equipe. Ela contou ao Hollywood Reporter que recebeu alguns briefings do diretor Damien Chazelle (que já havia ganhado cinco indicações ao Oscar com o filme Whiplash de 2014) com montagens de vídeo de vários musicais.
Cenas de Cantando na Chuva (1952), Romeu + Julieta de Baz Luhrmann (1996), além de trechos de Vem Dançar Comigo (1993) e Boogie Nights – Prazer Sem Limites (1997), figuram entre as principais inspirações para a criação de La La Land.
O filme deu tão certo que já é um forte candidato a se tornar parte integrante do imaginário do cinema contemporâneo. “Esperamos que o uso das cores evoque emoções presentes no consciente ou no subconsciente do espectador”, finaliza a figurinista.