O que você levaria para Marte? Mônica Martelli, atriz, dramaturga, cronista e apresentadora brasileira fala sobre empoderamento, amadurecimento, estilo e nos leva em uma viagem especial a Marte
Conte-nos sobre a sua trajetória na atuação? Como é ser mulher e se empoderar nesse meio
Ser mulher é difícil em qualquer meio e em qualquer época, estamos ainda batalhando lutando por muitos direitos. E eu quando comecei no humor era muito difícil, porque o humor era muito machista a maioria dos programas de televisão eram todos com piadas voltadas, sempre piada em cima de mulher feia, de negro, de gay, então ou você era a mulher gostosa ou a mulher feia. Era difícil você ver uma mulher protagonizando alguma coisa, então eu tive que ir abrindo meu espaço, caminhando e abrindo um caminho próprio para mim. Eu inventei uma carreira para mim, tenho um humor que é só meu, que é um humor muito particular, faço graça e piada em cima das minhas próprias dores, das minhas próprias vivências, e é um jeito muito meu de falar, então eu fui descobrindo... Fui me descobrindo, eu fui abrindo um caminho para mim e ao mesmo tempo me descobrindo.
É difícil falar de si mesma naquilo que você escreve?
É difícil falar de si mesma, mas sempre quando eu falo de alguma situação que eu passei, alguma dor, alguma alegria eu tenho certo distanciamento daquilo, então eu consigo olhar com distanciamento, olhar de fora, então consigo escrever com certo humor e tem alguma coisa muito boa de você escrever suas dores e as suas alegrias, as suas vivências porque isso é uma cura, você quando coloca para fora, você quando escreve, elabora de alguma forma, então aquilo te cura. Na verdade, é uma cura só, na minha carreira eu estou vivendo, escrevendo e me curando…
De onde vem suas inspirações? O que te atrai no dia a dia?
A minha inspiração vem da vida, de tudo que eu vivo, de tudo que eu vejo, de tudo que eu sinto, de tudo que eu sofro, de tudo que eu dou risada, de tudo que eu observo. A vida, eu sou apaixonada pela vida. A minha inspiração vem daí, das minhas descobertas, dos meus desejos, das minhas mudanças de desejos, a minha inspiração vem de tudo que está relacionando com a vida.
Você está vivendo a sua melhor fase na vida?
Eu acho que estou vivendo o momento mais feliz da minha vida, por diversas razões. Primeiro, eu estou com saúde, minha filha está com saúde. Eu tenho uma filha que vai fazer 10 anos e acho que ela está se tornando uma cidadã bacana, eu acho que isso é uma coisa que e batalhada dia a dia, você passar valores para uma criança. Eu estou vivendo um momento profissional muito feliz, com a minha peça rodando o Brasil, lotando com um público maravilhoso, fazendo um programa que eu adoro que é o “Saia Justa”, já escrevendo a quinta temporada de “Homens são de Marte”, já com projeto do livro. E estou vivendo um amor que acho que, pela primeira vez... É engraçado, já vivi vários amores, e acho que todos eles foram importantes para eu ser a mulher que sou hoje, mas eu acho que pela primeira vez eu entrei numa relação exatamente sabendo o que quero do outro, sabendo o que eu desejo do outro, sem grandes idealizações, sem grandes expectativas. Eu estou sabendo lidar com as minhas idealizações. As minhas idealizações românticas... Eu sei exatamente o tamanho delas e quais são. Então, hoje eu sei lidar com elas, sei hoje domá-las e viver uma relação de verdade, uma relação real. Então eu acho que pela primeira vez eu entrei em uma relação sabendo exatamente o que eu desejo do outro. Isso é uma coisa rara, porque geralmente a gente entra com muita expectativa, com muita idealização e aí quando vem o ser humano real, quando vem a pessoa real, aquilo cai por terra. Então, eu estou vivendo um amor que eu sinto que pela primeira vez estou vivendo um amor nesta qualidade e estou sendo amada também, claro... A gente só está feliz quando está sendo amada também, por amar sozinho... O bom quando você está amando e sendo amado, então eu estou sendo amada igualmente. Isso me dá uma alegria muito grande, é muito bom... É um encontro. Quando você vive um encontro desses, temos que celebrar e nós estamos celebrando diariamente.
Como amadurecer o seu estilo pessoal? Existe algo que você nunca usaria?
Para amadurecer o seu estilo pessoal, acho que é você se conhecer. Cada vez que você se conhece mais, melhor você se entende e sabe aquilo que te veste melhor, que te faz mais feliz. O meu parâmetro é me olhar e me achar bonita e confortável. Quando eu coloco uma roupa e falam: “essa roupa é cool” ou “essa roupa está na moda”, mas se eu não estou me sentindo bonita, se não cai bem em mim... Nem tudo cai bem em você, você tem que entender qual é o seu melhor, como estar no seu melhor. O parâmetro é a nossa felicidade, nosso prazer, se sentir bem. Eu nunca usaria pele. Hoje eu estou mais preocupada com a cadeia de produção, por exemplo, que é algo que está na minha cabeça. Então, por exemplo, aquela roupa que você sabe que tem uma procedência de trabalho escravo, ou coisa parecida, já não me interessa. O planeta é a nossa casa maior e a gente tem que se preocupar com o planeta minimamente, acho que essa é a tomada de consciência que todo mundo está tendo, está todo mundo começando a entrar em contato com essa compra mais consciente. Em termos de estilo, eu acho que é usar aquilo que você se sente bonita e se sente bem, não existe nada que eu falaria “isso eu nunca usaria”, pode ser que um dia eu use porque eu mudo muito. Acho uma delícia mudar. Só muda quem é inteligente, eu mudo muito! Eu mudo de opinião, mudo de tudo. E acho importantes essas mudanças. Algo que eu não usaria hoje, com certeza pode ser que eu use daqui a algum tempo, mas tem coisas que eu não uso mais que eu sei que são prejudiciais ao planeta.
Se você fosse para Marte, qual a única coisa que você levaria? O que é preciso para viver em Marte?
A única coisa que eu levaria para Marte é esperança. Para onde eu vou carrego esperança. E o que é preciso para viver em Marte? Fé! Eu acho que fé, acima de tudo, fé de que tudo vai dar certo!