Poucos nomes na moda alcançaram o mesmo patamar que a estilista Vivienne Westwood. Pudera. Desde os anos 70, a inglesa é responsável por lançar e propagar algumas das principais tendências do mundo, incluindo verdadeiros movimentos culturais, como o punk e a moda engajada dos anos 2000.
Um dos principais destaques da London Fashion Week, onde voltou a desfilar desde 1997, Vivienne aprendeu o ofício na base da tentativa e erro. Ela estudou pouco tempo na Harrow School of Art e só desenvolve seu senso estético, de fato, nas ruas, influenciada sobretudo pelo rock dos anos 50 e pelos ícones da cultura britânica.
Não à toa, Vivienne Westwood já foi condecorada pela Rainha Elizabeth II, por conta de seus serviços prestados à moda britânica.
Sexo & rock ’n’ roll
Foi em 1971 que a estilista inglesa começou sua trajetória, fundando sua primeira loja, batizada inicialmente de Let it Rock – mais tarde, ela passaria a se chamar Sex.
Ao lado do seu segundo marido e sócio, Malcolm McLaren, Vivienne investia em roupas feitas sob medida para a cena underground, com a rebeldia que caracteriza seu trabalho desde então.
Como McLaren também era na época produtor da banda Sex Pistols, não demorou para que Vivienne ficasse conhecida como a mãe da moda punk, com direito a vestidos emblemáticos, com padronagens tartan e/ou presos por alfinetes e, para os homens, jaquetas de couro e camisetas rasgadas, suas marcas registradas até hoje.
God Save the Queen
Iconoclasta, a marca de Vivienne Westwood tem por essência um estilo contestador, fazendo eco aos discursos da estilista. “A melhor maneira de confrontar a sociedade britânica é ser o mais obscena possível”, disse ela em 2013, durante a abertura da exposição Punk: Chaos to Couture, realizada no Metropolitan Museum of Art, em Nova York.
E Vivienne não poupou esforços para conseguir chamar atenção. Na verdade, fez de suas roupas e acessórios, como os da Vivienne Westwood Red Label, seus melhores manifestos, conseguindo mesclar transgressão e tradição na mesma medida.
O grande mérito da estilista, aliás, é justamente esse equilíbrio entre o melhor da moda britânica – alfaiataria, padronagens clássicas e itens históricos, como o corset – e a sua rebeldia panfletária, vista, por exemplo, nas camisetas da linha Vivienne Westwood Anglomania.
Aula de história
Ser vanguardista e, ao mesmo tempo, exímia conhecedora de história é outro traço de sua moda revolucionária.
Suas coleções mais emblemáticas, como a Mini-Crini, de 1985, são repletas de referências à indumentária inglesa, como as saias com crinolina usadas no século 19 pelas mulheres e os casacos vestidos pela Rainha Elizabeth II quando criança. Tudo revisitado ao estilo Vivienne, é claro.
As homenagens à cultura de seu país permeiam toda a carreira da estilista e podem ser vistas nitidamente também em Five Centuries Ago, de 1997, inspirada nos Tudor, ou em Anglomania, de 1993, onde ela mesclou a alfaiataria e a espontaneidade dos ingleses ao refinamento francês. A etiqueta masculina Vivienne Westwood Man bebe das mesmas fontes.
Moda-ativismo
E é essa brincadeira despretensiosa de viajar entre passado e presente que torna a marca Vivienne Westwood eterna. Hoje, seu terceiro marido, o estilista austríaco Andreas Kronthaler, está à frente da criação, mas a estilista não abandona a faceta de porta-voz de questões atuais. Das mudanças climáticas ao posicionamento sócio-político, “é preciso desconfiar do governo”, prega ela.
As coleções recentes passam por temas que vão da liberdade de Julian Assange (fundador do WikiLeaks), às políticas de combate ao terrorismo (a camiseta com a frase “I am not a terrorist, please don’t arrest me” ficou famosa), passando pelo fim do uso das peles animais na moda. Tanto que no final de seus desfiles, as sacolas dadas à plateia contêm panfletos do PETA.
Tudo isso, claro, sem perder de vista a sofisticação e a ousadia das cobiçadas bolsas Vivienne Westwood e dos saltos altíssimos, que já fizeram até a top Naomi Campbell cair na passarela em uma cena histórica!