Poucos artistas souberam se reinventar ao longo das décadas com tanto talento e habilidade quanto David Bowie. O músico inglês, que completaria 50 anos de carreira em 2017, foi um dos mais influentes de todos os tempos. Isso também se refletiu na moda – a tal ponto que a biografia David Bowie se tornou parte integrante da linha do tempo do estilo.
Antes da fama, ainda na adolescência, Bowie surpreendia com suas roupas justinhas. Peças como a calça skinny masculina, coladas ao corpo, faziam parte do figurino do inglês. O camaleão do rock antecipou a era genderless – ele sempre flertou com a androginia e nunca teve medo de fazer incursões pelo guarda-roupa feminino, quebrando barreiras e criando looks únicos que estavam à frente de sua época.
A notoriedade veio em 1969, com Space Oddity e o início de um estilo alinhado à moda vanguarda. A faixa de abertura do álbum David Bowie já revelava o artista como um brilhante catalisador dos desejos de sua geração, ao narrar a história de um sujeito perdido no espaço, o astronauta fictício Major Tom, alguns dias antes da chegada do homem à Lua.
Glitter e glamour
Foi quando assumiu a persona de Ziggy Stardust, em 1972 – usando meia-calça arrastão, acessórios e maquiagem – que o músico mudou a cultura pop para sempre. Com The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars, embalado por um glam rock elaborado, o artista imortalizou a moda David Bowie ao evocar uma sexualidade até então restrita ao underground, mostrando ao mundo que havia uma gama infinita de possibilidades.
O estilista Jean Paul Gaultier mergulhou nesta atmosfera ao homenagear Ziggy Stardust em uma coleção desfilada em 2013. Na passarela, modelos apresentaram looks icônicos do camaleão, como seu emblemático macacão, com direito ainda a perucas com mullets de fios avermelhados.
Em 1973, foi lançado Aladdin Sane, incluído na lista da revista Rolling Stone como um dos 500 melhores álbuns de todos os tempos. A capa trazia a icônica imagem do camaleão do rock com um raio pintado sobre a face, símbolo que vem sendo reproduzido na música e na moda desde então, a exemplo do single de estreia de Lady Gaga, Just Dance.
Essa fase da biografia David Bowie em especial inspirou o estilista Riccardo Tisci em sua coleção ready-to-wear para a Givenchy na primavera 2010. A linha incluía modelos de jaquetas, como uma releitura da peça listrada em preto e branco usada por Bowie na ocasião do lançamento do disco.
Uma vida repleta de guinadas
Outra característica marcante da biografia de David Bowie ficaria clara em pouco tempo: a capacidade de se distanciar radicalmente de uma imagem que ele mesmo havia criado. Após o anúncio da “morte” de Ziggy Stardust, a primeira mudança de direção veio em 1975, com Young Americans, em que o artista expressava sua obsessão pela soul music e investia em ternos de alfaiataria.
Àquela altura, as músicas David Bowie já faziam parte da cultura pop mundial e, dois anos depois, os efeitos eletrônicos passaram a ser o foco do artista. Ele iniciou, então, a primeira de três colaborações com o produtor Brian Eno, conhecidas como “trilogia de Berlim”. Low (1977), Heroes (1977) e Lodger (1979) compõem esta fase em que o músico se muda para a capital alemã na tentativa de ficar livre das drogas.
A trilha sonora das pistas
Na década de 80, Let’s Dance (1983) representou um novo apogeu, com hits perfeitos para as pistas de dança. O brilho e o colorido das ousadas produções usadas pelo artista – assim como os raios, elemento constante na biografia David Bowie – inspiraram coleções completas, como o pré-outono 2015 da grife italiana Emilio Pucci.
Das camurças aos vestidos de manga longa de seda, o então diretor criativo da marca, Peter Dundas, apresentou peças esportivas perfeitas para um look casual e também verdadeiras obras da alta-costura, com direito a veludos e aplicações de renda.
Paralelamente, o artista multifacetado dedicava-se à carreira de ator. Os filmes David Bowie renderam um capítulo à parte em sua extensa carreira, com atuações em títulos clássicos como Labirinto (1986), dirigido por Jim Henson.
Na vida afetiva, Bowie se mostrou mais constante, passando os últimos 24 anos de vida casado com a modelo somali Iman, com quem teve uma filha, Alexandria. Ele também teve um filho, Duncan Jones, durante seu casamento com Angie Bowie.
Últimos trabalhos
Em 2013, o artista ressurgiu com The Next Day após 10 anos sem gravar. No mesmo ano, ele foi tema da exposição de maior sucesso da história do Victoria and Albert Museum, em Londres.
Blackstar, seu último trabalho, não foi menos impressionante. Lançado no aniversário de 69 anos de Bowie, em 8 de janeiro de 2016 – dois dias antes de morrer –, o álbum estampa uma estrela negra na capa e traz como single a faixa Lazarus, cujo videoclipe mostra o músico em uma cama de hospital.
Enigmática, mas também o símbolo de outra guinada musical, a obra reúne jovens talentos do jazz em faixas com efeitos eletrônicos e espaço para solos de sax e guitarra – diferente de tudo o que o próprio músico havia feito. Estava explicado o plano: diante do fim inevitável decorrente de uma doença mantida em sigilo, o eterno camaleão do rock faria o que sempre fez de melhor, reinventando-se e transformando a própria morte em obra de arte.