Cria da Central Saint Martins, o maior celeiro da cena fashion inglesa, Alexander McQueen tinha o talento correndo nas veias desde cedo.
Caçula de seis e filho de um taxista, McQueen cresceu no East End, em Londres, e abandonou a escola aos 16 anos, quando se tornou aprendiz de alfaiate em Saville Row, a rua mais célebre da alfaiataria mundial.
Não à toa, a estrutura de suas roupas, que transitavam entre tradição e modernidade, passeando pela transgressão, foi um dos seus principais trunfos ao longo da vida.
Uma madrinha e tanto
Depois de concluir um mestrado na Saint Martins, em 1990, Alexander McQueen passou a unir as técnicas de alfaiataria com um estilo pautado pelas ruas de Londres, a maior referência para suas coleções.
“Londres é onde cresci. É onde está meu coração e onde busco minha inspiração”, afirmou o estilista.
Já no desfile de formatura, o look dramático do britânico chamou a atenção de grandes players da moda: a lendária editora de moda Isabella Blow comprou toda a coleção e persuadiu o estilista a usar apenas seu nome do meio – o primeiro é Lee.
Trajetória fulminante
Não demorou para o sucesso encontrar McQueen. Em 1996, ele foi contratado como diretor criativo da Givenchy, permanecendo no cargo até 2001 e tocando, em paralelo, a etiqueta que leva seu nome.
Em 2000, a label passou a integrar o portfólio do grupo Gucci e ganhou a merecida expansão, fincando bandeira em Nova York, Londres, Milão, Las Vegas e Los Angeles.
Os prêmios também não tardaram: McQueen foi eleito o melhor estilista da moda britânica em 1996, 1997, 2001 e 2003, além de angariar o posto de melhor designer do ano, em 2003, concedido pelo CFDA.
Foram do estilista também o figurino da turnê de 1996-97 de David Bowie e a produção da capa do álbum Homogenic, de Björk, lançado em 1997.
Enfant terrible
“Você tem que conhecer as regras para poder quebrá-las. É por isso que estou aqui, para demolir as regras e manter a tradição ao mesmo tempo.”
Rebeldia de um lado e história de outro definem bem seu trabalho – ele era aficionado pela Era Vitoriana, de onde vinha grande parte do seu look dark.
Sua principal marca-registrada era o domínio de trabalhar com opostos: vida e morte, luz e escuridão, melancolia e beleza.
Somam-se a isso a originalidade da construção de suas roupas, sempre com um elemento surpresa: ombros de casacos remodelados, tecidos desgastados em roupas de alta-costura, padronagens típicas da moda inglesa aumentadas e distorcidas, matérias-primas como cabelo e látex e os icônicos e avant-garde vestidos Alexander McQueen.
Desfiles emblemáticos
Outra grande contribuição do designer à moda inglesa e mundial foi a concepção de desfiles dramáticos, que seguiam uma narrativa e desafiavam a fórmula das passarelas.
Na coleção de verão 2005, ele transformou as modelos em peças de xadrez, onde o jogo era pautado pela dualidade Oriente versus Ocidente e inspirado em uma das cenas de Harry Potter.
Em Voss, do verão 2001, uma caixa de espelho separava modelos vendadas dos convidados que eram refletidos no espelho. E é impossível não lembrar da modelo Shalom Harlow rodando na passarela enquanto robôs jogavam jatos de tinta sobre o vestido usado por ela.
Sua última coleção, Plato’s Atlantis, previa uma espécie de retorno à origem das espécies, tendo Charles Darwin como ponto de partida. Passado e futuro se misturavam, criando mulheres com vestidos que lembravam águas-vivas e sapatos Alexander McQueen do icônico modelo tatu, com saltos de 25 centímetros. O background mostrava imagens da brasileira Raquel Zimmermann nua e cercada por cobras.
Homenagens e desafios
Depois de sua morte, em fevereiro de 2010, o legado de Alexander McQueen chegou aos museus (Met e Victoria & Albert Museum) e se prepara agora para ganhar o cinema, com um longa baseado em seu último desfile e um documentário que traça sua carreira desde o início.
Um livro – Alexander McQueen Unseen -, com fotos inéditas feitas pelo fotógrafo Robert Fairer, também promete trazer o estilo McQueen de volta: são cliques intimistas feitos em 30 dos 36 desfiles que o britânico fez durante sua vida.
Desde 2010, o desafio de continuar a marca sem seu criador coube à estilista Sarah Burton, que foi assistente de McQueen por 14 anos. “Ele era um gênio, um verdadeiro visionário, que rompeu barreiras, desafiou o mundo da moda e virou inspiração para muitos. Ele acreditava na criatividade e inovação e seu talento era gigantesco.”
Em setembro de 2010, Sarah apresentou a primeira coleção de sua autoria e, em 2011, foi escolhida pela duquesa de Cambrige, Kate Middleton, para fazer seu vestido de casamento com o príncipe William.
Aclamada pela crítica, ela manteve vivo o estilo de McQueen, ressaltando o aspecto artesanal das roupas e adicionando toques de feminilidade, inclusive em sua segunda marca, McQ Alexander McQueen.
Em 2012, a estilista foi condecorada com a Ordem do Império Britânico em retribuição a sua contribuição para a moda inglesa, mostrando que está mesmo à altura de perpetuar a tradição de Lee Alexander McQueen.